Um
dos movimentos que marca uma “nova” fase no início do século XX na América
Latina é a Revolução Mexicana, que no dizer do historiador Américo Nunes, se
caracterizará por inúmeras ondas revolucionarias, fazendo com que a mesma
transforme-se na mais longa revolta do continente americano (1910-1934). Esta
revolução possuiu os seguintes significados:
Marca a passagem
do modelo oligárquico para o modelo populista no México. Uma revolta popular de
cunho agrário.
Uma revolução sem
conteúdo ideológico próprio.
Uma revolução sem
liderança intelectual, que buscassem alternativas fora da ótica capitalista.
A revolução
mexicana foi, sobretudo uma revolução agrária. Apesar de existir nas cidades um
operariado já consciente da exploração, a participação desta classe no processo
revolucionário foi secundaria e um dos problemas para o avanço do movimento foi
à dificuldade dos trabalhadores do campo e da cidade se unirem.
A ditadura de
Porfirio Díaz privilegiava descaradamente os latifundiários, o capital
estrangeiro, o grande comércio e seus dois associados: o clero, que voltara a
ser uma poderosa força, e uma clientela de políticos e militares que assaltava
o tesouro público.
O descontentamento
com a desigualdade crescia em todos os setores populares. A industrialização do
México desenvolveu uma classe operária que não tinha direitos trabalhistas e,
dirigida por sindicalistas anarquistas, promovia várias greves na cidade. O
desenvolvimento do comércio e da indústria levou o crescimento das camadas
médias da população, as quais se agitavam querendo o fim da longa ditadura e a
implantação de um regime democrático. Alguns intelectuais das classes médias
falavam mesmo em implantar o socialismo no país.
A situação
internacional também não favorecia o governo Díaz. Após haver escancarado o
México para os capitais norte-americanos, temendo a influência dos Estados Unidos
o presidente voltou-se para os capitais europeus. O apoio dado por ele aos
capitais ingleses provocou um esfriamento de suas relações com os Estados
Unidos. O governo americano passou, então, a incentivar os grupos opositores a
Díaz.
O presidente
postulava sua sexta eleição para o cargo. Setores das elites políticas,
liderados por Francisco Madero, fizeram um levante armado para impedir o
continuísmo e convocar eleições através do sufrágio universal. A revolução
começou como um movimento de oposição política, mas logo se transformou em uma
revolução social devido a um levante dos camponeses, liderados por Pancho Villa
no norte e Emiliano Zapata no sul.
Pancho Villa era
analfabeto, um filho de peões ignorantes, que se tornou bandido quando matou um
funcionário do governo que violara sua irmã. Durante 22 anos viveu como
bandoleiro no norte do México, com sua cabeça posta a premio pelo governo. Mas
o fato de ser perseguido pelo governo, talvez não se deva ao assassinato de um
funcionário público, pois a vida de um homem não valia muito no México daqueles
tempos. Seu crime imperdoável foi roubar gado dos fazendeiros ricos. Seu nome
como bandido ficou tão famoso que todos os roubos de trens, assaltos e
assassinatos no norte do México eram atribuídos a Villa. As lendas o
representavam como um Robin Hood.
Quando Madero
começou a lutar contra Díaz, Villa, talvez para obter indulto ou guiado pela
rebelião dos peões, foi ao encontro dele e colocou a si e a seu bando, seus
conhecimentos e sua fortuna a serviço dele e o acompanhou até a Cidade do
México, onde foi nomeado general honorário.
Emiliano Zapata, o
caudilho camponês do sul, era politizado e tinha alguns assessores anarquistas
que lhes haviam falado de um certo comunismo. Em 1911, com a renúncia de Díaz,
Madero assumiu o poder. Suas promessas de reforma agrária ficaram no papel.
Naquele mesmo ano, Zapata lançou o Plano de Ayala, declarando que não deporia
as armas até que fossem devolvidas, pelos fazendeiros ricos, as terras
despojadas das comunidades indígenas e dos camponeses. Iniciou-se, assim, a
verdadeira Revolução Mexicana que convulsionaria o país em lutas sangrentas até
1919.
O general
Victoriano Huerta, um misto de bandido e general, depôs Madero. Os
constitucionalistas se levantaram contra Huerta no norte.
No norte, o
exército dos constitucionalistas mais disciplinado era Pancho Villa, embora não
fosse tão disciplinado assim. Soldados a pé esperando que os companheiros
montados morressem sem tomar suas armas e montarias. Soldados que massacravam
os adversários presos, que viajavam com suas mulheres e punham-se a dançar,
antes das batalhas importantes, com as moças dos povoados ocupados. O próprio
Villa ficou bailando, sem dormir, durante três dias, antes de um combate
importante. Dizia-se que o próprio Villa liquidou, de uma só vez, 57
prisioneiros e só parou porque o seu dedo estava cansado de puxar o gatilho. A
bem da verdade, os federais, o exército de Huerta, formado de bandidos tirados
das penitenciárias, também não costumavam fazer prisioneiros e tinham por
hábito violentar as camponesas.
Os oficiais e
soldados de Villa não tinham muitas preocupações políticas. Alguns diziam que
estavam lutando para passar o tempo; outros diziam que estavam lutando para não
trabalhar nas minas ou nos campos. Fazendas tiradas dos estrangeiros ou
inimigos ficavam para os generais ou oficiais de Villa, embora este dissesse
sonhar com terras para todos os camponeses.
Após a queda de
Huerta, Zapata e Villa ocuparam a cidade do México e, durante esse período,
dividiram o poder. Durante esse período, o líder camponês do sul, Zapata,
conseguiu colocar em prática, no Estado de Morellos, um reforma agrária mais
profunda e radical do que a anunciada no Plano de Ayala. Essa reforma agrária,
que sofreu influência dos políticos socialistas e anarquistas, baseava-se na
tradição comunitária indígena, isto é, na volta da propriedade coletiva da
comunidade, que fora desfeita pela reforma liberal. Todas as propriedades
tinham um tamanho máximo, de acordo com o solo e o clima, e passaram à posse do
Estado. Criaram-se fábricas de ferramentas agrícolas, escolas para formar
técnicos agrícolas e um banco para fornecer créditos aos camponeses. Os
moradores dos povoados elegiam suas autoridades, seus tribunais e sua própria
polícia. Mesmo os comandantes militares estavam submetidos à autoridade da
população dos povoados. Com a morte de Zapata, em 1919, sua obra
democrático-popular no sul foi desfeita.
Outro general
constitucionalista, Carranza, assumiu o poder e, embora falando em reforma agrária,
promoveu uma longa batalha contra zapatistas e villistas; e os venceu. Para sua
vitória contribuíram os batalhões vermelhos, organizados pelo operariado urbano
e comandados por líderes sindicais anarquistas. Esses batalhões operários
apoiaram Carranza porque ele atendeu às reivindicações dos trabalhadores
urbanos.
A Constituição de
1917, redigida no calor da luta revolucionária, assegurava ao governo o poder
de expropriar a terra para efeito de reforma agrária; instituía um ampla
legislação social para a classe operária; restringia a intromissão da Igreja
nos negócios do Estado; e passava ao Estado a propriedade do subsolo e o
controle das concessões das jazidas minerais e petrolíferas.
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