terça-feira, 10 de abril de 2012

A Revolução Mexicana


Um dos movimentos que marca uma “nova” fase no início do século XX na América Latina é a Revolução Mexicana, que no dizer do historiador Américo Nunes, se caracterizará por inúmeras ondas revolucionarias, fazendo com que a mesma transforme-se na mais longa revolta do continente americano (1910-1934). Esta revolução possuiu os seguintes significados:
Marca a passagem do modelo oligárquico para o modelo populista no México. Uma revolta popular de cunho agrário.
Uma revolução sem conteúdo ideológico próprio.
Uma revolução sem liderança intelectual, que buscassem alternativas fora da ótica capitalista.
A revolução mexicana foi, sobretudo uma revolução agrária. Apesar de existir nas cidades um operariado já consciente da exploração, a participação desta classe no processo revolucionário foi secundaria e um dos problemas para o avanço do movimento foi à dificuldade dos trabalhadores do campo e da cidade se unirem.
A ditadura de Porfirio Díaz privilegiava descaradamente os latifundiários, o capital estrangeiro, o grande comércio e seus dois associados: o clero, que voltara a ser uma poderosa força, e uma clientela de políticos e militares que assaltava o tesouro público.
O descontentamento com a desigualdade crescia em todos os setores populares. A industrialização do México desenvolveu uma classe operária que não tinha direitos trabalhistas e, dirigida por sindicalistas anarquistas, promovia várias greves na cidade. O desenvolvimento do comércio e da indústria levou o crescimento das camadas médias da população, as quais se agitavam querendo o fim da longa ditadura e a implantação de um regime democrático. Alguns intelectuais das classes médias falavam mesmo em implantar o socialismo no país.
A situação internacional também não favorecia o governo Díaz. Após haver escancarado o México para os capitais norte-americanos, temendo a influência dos Estados Unidos o presidente voltou-se para os capitais europeus. O apoio dado por ele aos capitais ingleses provocou um esfriamento de suas relações com os Estados Unidos. O governo americano passou, então, a incentivar os grupos opositores a Díaz.
O presidente postulava sua sexta eleição para o cargo. Setores das elites políticas, liderados por Francisco Madero, fizeram um levante armado para impedir o continuísmo e convocar eleições através do sufrágio universal. A revolução começou como um movimento de oposição política, mas logo se transformou em uma revolução social devido a um levante dos camponeses, liderados por Pancho Villa no norte e Emiliano Zapata no sul.
Pancho Villa era analfabeto, um filho de peões ignorantes, que se tornou bandido quando matou um funcionário do governo que violara sua irmã. Durante 22 anos viveu como bandoleiro no norte do México, com sua cabeça posta a premio pelo governo. Mas o fato de ser perseguido pelo governo, talvez não se deva ao assassinato de um funcionário público, pois a vida de um homem não valia muito no México daqueles tempos. Seu crime imperdoável foi roubar gado dos fazendeiros ricos. Seu nome como bandido ficou tão famoso que todos os roubos de trens, assaltos e assassinatos no norte do México eram atribuídos a Villa. As lendas o representavam como um Robin Hood.
Quando Madero começou a lutar contra Díaz, Villa, talvez para obter indulto ou guiado pela rebelião dos peões, foi ao encontro dele e colocou a si e a seu bando, seus conhecimentos e sua fortuna a serviço dele e o acompanhou até a Cidade do México, onde foi nomeado general honorário. 
Emiliano Zapata, o caudilho camponês do sul, era politizado e tinha alguns assessores anarquistas que lhes haviam falado de um certo comunismo. Em 1911, com a renúncia de Díaz, Madero assumiu o poder. Suas promessas de reforma agrária ficaram no papel. Naquele mesmo ano, Zapata lançou o Plano de Ayala, declarando que não deporia as armas até que fossem devolvidas, pelos fazendeiros ricos, as terras despojadas das comunidades indígenas e dos camponeses. Iniciou-se, assim, a verdadeira Revolução Mexicana que convulsionaria o país em lutas sangrentas até 1919.
O general Victoriano Huerta, um misto de bandido e general, depôs Madero. Os constitucionalistas se levantaram contra Huerta no norte.
No norte, o exército dos constitucionalistas mais disciplinado era Pancho Villa, embora não fosse tão disciplinado assim. Soldados a pé esperando que os companheiros montados morressem sem tomar suas armas e montarias. Soldados que massacravam os adversários presos, que viajavam com suas mulheres e punham-se a dançar, antes das batalhas importantes, com as moças dos povoados ocupados. O próprio Villa ficou bailando, sem dormir, durante três dias, antes de um combate importante. Dizia-se que o próprio Villa liquidou, de uma só vez, 57 prisioneiros e só parou porque o seu dedo estava cansado de puxar o gatilho. A bem da verdade, os federais, o exército de Huerta, formado de bandidos tirados das penitenciárias, também não costumavam fazer prisioneiros e tinham por hábito violentar as camponesas.
Os oficiais e soldados de Villa não tinham muitas preocupações políticas. Alguns diziam que estavam lutando para passar o tempo; outros diziam que estavam lutando para não trabalhar nas minas ou nos campos. Fazendas tiradas dos estrangeiros ou inimigos ficavam para os generais ou oficiais de Villa, embora este dissesse sonhar com terras para todos os camponeses.
Após a queda de Huerta, Zapata e Villa ocuparam a cidade do México e, durante esse período, dividiram o poder. Durante esse período, o líder camponês do sul, Zapata, conseguiu colocar em prática, no Estado de Morellos, um reforma agrária mais profunda e radical do que a anunciada no Plano de Ayala. Essa reforma agrária, que sofreu influência dos políticos socialistas e anarquistas, baseava-se na tradição comunitária indígena, isto é, na volta da propriedade coletiva da comunidade, que fora desfeita pela reforma liberal. Todas as propriedades tinham um tamanho máximo, de acordo com o solo e o clima, e passaram à posse do Estado. Criaram-se fábricas de ferramentas agrícolas, escolas para formar técnicos agrícolas e um banco para fornecer créditos aos camponeses. Os moradores dos povoados elegiam suas autoridades, seus tribunais e sua própria polícia. Mesmo os comandantes militares estavam submetidos à autoridade da população dos povoados. Com a morte de Zapata, em 1919, sua obra democrático-popular no sul foi desfeita.
Outro general constitucionalista, Carranza, assumiu o poder e, embora falando em reforma agrária, promoveu uma longa batalha contra zapatistas e villistas; e os venceu. Para sua vitória contribuíram os batalhões vermelhos, organizados pelo operariado urbano e comandados por líderes sindicais anarquistas. Esses batalhões operários apoiaram Carranza porque ele atendeu às reivindicações dos trabalhadores urbanos.
A Constituição de 1917, redigida no calor da luta revolucionária, assegurava ao governo o poder de expropriar a terra para efeito de reforma agrária; instituía um ampla legislação social para a classe operária; restringia a intromissão da Igreja nos negócios do Estado; e passava ao Estado a propriedade do subsolo e o controle das concessões das jazidas minerais e petrolíferas.                             


Nenhum comentário:

Postar um comentário