CONSIDERAÇÕES GERAIS
SOBRE GRÉCIA ANTIGA.
Sempre que se fala em Grécia Antiga
pensa-se imediatamente em cidades-estados, em democracia; nos grandes
filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles; na escultura e na arquitetura. A
alguns pode ocorrer, ainda, o “século de ouro” ou século de Péricles (V), ou
mesmo as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Convém estar atento,
contudo, ao fato de que esses lugares-comuns pertencem ao apogeu da civilização
grega, o período clássico, e dizem respeito, sobretudo a Atenas, uma entre
muitas cidades que compunham a Hélade na antiguidade. Esquece-se com freqüência
que a democracia, as grandes obras de arte e a plenitude da pólis dependeram de
longos séculos de formação, criação e amadurecimento.
Na verdade, o conjunto de traços que se
articularam para compor o que conhecemos como a Grécia Clássica começou a se
desenvolver a partir do século X aproximadamente, durante a época que se
convencionou chamar de “homérica”. A formação da pólis grega propriamente dita
com suas características principais, o desenvolvimento da noção de cidadania, o
estabelecimento dos fundamentos econômicos e sociais da civilização grega,
datam do período arcaico (aproximadamente 700-500). O período clássico
corresponde ao século V e parte do século IV e, finalmente, é na época
helenística (336-146) que se verifica o declínio da pólis grega.
Em primeiro lugar, trata-se de uma
periodização que se generaliza a partir da história da cidade cujo
desenvolvimento mais conhecemos: Atenas.
Com efeito, o grosso da documentação que é
disponível sobre a Grécia Antiga provem de Atenas, principalmente no que se
refere à documentação escrita. Por outro lado,o tipo de estabelecimento
populacional na Grécia, sua excessiva fragmentação, ou seja, o fato de não ter
existido uma unidade política entre as diversas cidades que compunham a Hélade,
tornou impossível uma sistematização que correspondesse estritamente ao seu
desenvolvimento geral. Isto quer dizer que cada cidade possui um ritmo próprio
de desenvolvimento: Esparta, por exemplo, manteve em pleno século V formas
políticas e sociais consideradas “arcaicas” por alguns historiadores. Outras
regiões, como a Tessália e a Macedônia, não chegaram a possuir pólis na acepção
completa do termo.
A segunda questão que se coloca quanto à
periodização diz respeito a civilização Micênica, que se desenvolveu na Grécia
na “Idade de Bronze”. Por muito tempo acreditou-se que esta civilização não
estava relacionada à história grega. Entretanto, na década de 1950, a
decifração dos tabletes escritos em
Linear B, provou que a língua que se falava então era o
grego. Neste caso, a civilização micênica foi uma civilização grega e como tal
deveria figurar como um período a mais dentro da nossa cronologia. Entretanto,
o conteúdo dos tabletes decifrados, aliado às informações arqueológicas
provenientes dos centros micênicos, demonstram que estes possuíam traços
sócio-políticos característicos do mundo oriental, não sendo possível, assim,
estabelecer uma continuidade com a Grécia de tempos posteriores. No mundo
micênico, apesar de tudo o desenvolvimento material, não existiram cidades, mas
pequenos Estados que contavam com uma centralização econômica e política
bastante acentuada. A produção e a distribuição dos gêneros dependiam em cada
comunidade de um controle burocrático, desconhecido na Grécia mais recente.
Aproximadamente entre 1200-1100, os Dórios invadiram a Península Balcânica e
destruíram esta civilização. Mas, ainda que se tenha seguido um período de
desordem, acompanhado por uma generalizada diminuição das condições materiais
de vida, nem tudo da civilização micênica foi destruído. Como se viu, a própria
língua sobreviveu. Mesmo assim, os fundamentos da civilização grega, daquela
que amadureceu no século V, só foram estabelecidos após a queda do mundo
micênico.
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