sábado, 5 de maio de 2012

O Mercantilismo nos Tempos Modernos


             Não se deve confundir a economia de mercado das formações sociais anteriores ao capitalismo com economia de mercado capitalista. Nas sociedades anteriores à nossa, os indivíduos dependiam apenas parcialmente do mercado e, no essencial, a riqueza era representada pela terra. Já na sociedade capitalista, os indivíduos dependem principalmente do mercado e, no essencial, a riqueza é representada pelo dinheiro.
             Assim, no momento em que os indivíduos passaram a depender fundamentalmente do mercado é que se consolida o sistema econômico capitalista. Mas a mudança não ocorreu de repente, da noite para o dia. Foi preciso que uma série de fatores desencadeassem um processo de políticas favoráveis ao pleno desenvolvimento do capitalismo.
            O processo de desenvolvimento econômico que fez da Europa líder comercial do mundo desde a modernidade até meados do século XX, em geral, é atribuído à interação de variáveis políticas e sociais e de elementos materiais representados pelas características do relevo, do clima e da vegetação.
            Nas condições de poder descentralizado do feudalismo, alguns nobres toleraram e até incentivaram as atividades em seus domínios de mercadores, banqueiros, negociantes de armas e artesãos, indivíduos autônomos e importantes na estrutura social. Somaram-se a essa circunstancia uma paisagem diversificada e uma variedade climática responsáveis pela existência de diferentes tipos de produtos apropriados à troca.
            Aos poucos e de maneira desigual, iniciou-se, principalmente na Europa ocidental, uma centralização da autoridade política, fundamental ao desenvolvimento econômico. Nesse sentido, diversos Estados nacionais optaram por diferentes práticas mercantilistas, responsáveis por uma expansão sem precedentes e por uma competição predatória. Nessa selva econômica, saíram vencedores aqueles países que demonstraram capacidade de adaptação e competitividade,
            Algumas práticas que emergiram desse universo econômico tiveram como diretrizes o metalismo, a balança comercial credora, o cameralismo e o colonialismo.
            Os Metalistas ou bulíonístas preconizavam que a riqueza estava relacionada com a capacidade de se conseguir acumular o máximo de ouro e prata. Essa prática, adotada especialmente pelos espanhóis entre os séculos XVI e XVII graças à descoberta de metais preciosos em suas colônias na América, contou com as seguintes regras:
            1ª) evitar ao máximo as importações, a fim de impedir a saída de metais preciosos do país;
            2ª) "balança de contratos", termo que designava a imposição de restrições ou protecionismos em contratos comerciais assinados entre nações.
            Estima-se que 18 mil toneladas de prata e duzentas toneladas de ouro foram levadas da América para a Espanha entre os séculos XVI e XVI I.
            Além da extração de metais preciosos da América, outras atividades se constituíram em valiosas fontes de riquezas para a Espanha, como a produção de açúcar, rum e melaço, o comércio de escravos negros e a pilhagem. Mas os reis dissiparam boa parte desses recursos, utilizando-os para pagar empréstimos estrangeiros, financiar guerras ou para comprar dos mercadores italianos, franceses, holandeses e ingleses produtos que não eram produzidos pela nação espanhola.
            A idéia de uma balança comercía1 credora teve como resultado duas práticas que fica, ai n conhecidas como industrialismo e comercialísmo. 0 objetivo era promover um superávit da balança comercial, isto é, exportar mais do que importar. Isso permitiria o ingresso de riquezas, expresso em entrada de moeda metálica, no Estado nacional.
            O industrialismo também se tornou conhecido como coffiertísmo devido ao impulso que essa política recebeu de Colbrt, ministro de Luís XIV. Na França do século XVII foi incentivada a indústria manufatureira, que tinha produção mais regular e mais previsível do que outros setores da economia, como a agricultura por exemplo, e gerava bens exportáveis de maior valor específico. Tecidos de luxo, malharia, tapeçaria, porcelana, objetos de vidro, armas e papéis passaram a fazer parte da pauta de exportações dos franceses.
            Tal política refletiu o pensamento dos mercantilistas franceses, que recomendaram o estímulo ao comércio nacional para impedir que mercadores estrangeiros retirassem ouro e prata do reino. Além disso, preconizaram a conquista colonial, fonte inesgotável de riqueza.
            Já os ingleses optaram pelo comercialísmo através de estímulos à produção manufatureira, especialmente de têxteis. Também foram incentivados o desenvolvimento da marinha mercante e as atividades dos piratas, que pilhavam os galeões espanhóis carregados de metais preciosos.
            A política mercantilista inglesa dos séculos XVI e XVII coincidiu com a expansão marítima e colonial. A Companhia das índias Orientais, organizada em 1600, deu à sua criadora, a rainha Elizabeth, entrepostos na índia, na Indonésia e no Japão. Posteriormente os ingleses se instalaram na Pérsia (atual Irã), Bombaim (Índia) e na América, tanto nas Antilhas quanto no continente, onde fundaram as 13 Colônias.
            O resultado desta política expansionista se fez sentir no desenvolvimento do comércio exterior e na marinha mercante britânica. Minérios como alúmen, o papel e principalmente os têxteis passaram a ser exportados com regularidade pelos ingleses.
            Dois "Atos de Navegação" tiveram enorme importância para o desenvolvimento da marinha mercante britânica no período mercantilista. O primeiro, promulgado em 1651 por Cromwell, estabelecia que as mercadorias européias só poderiam ser transportadas em navios ingleses ou em navios de seu país de origem; os produtos da África, da Ásia e da América só poderiam ser importados em navios da Inglaterra ou das colônias. O segundo ato, promulgado em 1660, especificava que o capitão e pelo menos três quartos da tripulação dos navios deveriam ser ingleses.
            Tais medidas mostraram-se cruciais para o enriquecimento do Estado inglês, a expansão colonial do país e a vitória britânica sobre seus mais fortes concorrentes: a Espanha (no fim do século XVI), a Holanda (no século XVII) e posteriormente a França (no século XVIII).
            Fragmentados em centenas de unidades com diferentes tamanhos e graus de soberania, os Estados germânicos adotaram uma política econômica mercantilista diferente daquelas do restante das nações européias, conhecida como cameralismo. Essa expressão que se originou de Kammerou tesouro real, designava medidas que pretendiam combater os efeitos da divisão territorial excessiva e também a destruição provocada pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648).
            A política econômica adotada pelos cameralistas teve como diretriz o aumento da riqueza tributável, isto é, o aumento dos impostos, e como conseqüência o crescimento da renda dos Estados. Por meio de regulamentações, os príncipes das unidades políticas mais significativas, sobretudo a Áustria, organizaram e controlaram a produção agrícola e manufatureira. As exportações de matérias-primas e as importações de produtos manufaturados foram proibidas.
            Essas práticas sobreviveram nos Estados germânicos durante aproximadamente três séculos. Contribuíram para que os mesmos se aproximassem da auto-suficiência econômica no século XIX, quando foram unificadas em uma só entidade política, a Alemanha imperial.
            Na Holanda, uma alva burguesia mercantil e bancária desenvolveu uma política mercantilista apoiada em três sólidos pilares: a Companhia das índias Orientais, encarregada de dirigir o comércio holandês no Oriente (compras, remessas de ouro, venda das mercadorias recebidas); o Banco de Amsterdã, responsável pelo fornecimento de crédito e de moedas de todos os países aos mercadores, para que pudessem comprar mercadorias de qualquer origem; e uma frota mercante capaz de transportar cargas pesadas e volumosas ao longo das rotas marítimas.
            Os holandeses desenvolveram ainda várias atividades de transformação, tais como a indústria de lanifícios e tecidos; tingimento e tecelagem da seda; acabamento de tecidos ingleses; corte de diamantes; cervejaria; destilaria; preparação de sal, tabaco e cacau; trabalho de chumbo; polimento de lentes ópticas; fabricação de microscópios, pêndulos e instrumentos de navegação; impressão de mapas (terrestres e marítimos) e de livros em todas as línguas.
            A política colonialista, por sua vez, teve corro preocupação a incorporação de extensas regiões da África, do Oriente e da América à economia européia. Baseou-se no chamado pacto colonial.
            Pelo pacto ou exclusivismo colonial, a colônia existiria em função da metrópole, e apenas para ela. Isso significa que a produção colonial deveria possibilitar lucros elevados aos comerciantes metropolitanos, que monopolizavam as importações e as exportações. A atividade econômica das colônias deveria apenas complementar as respectivas metrópoles, sem jamais concorrer com elas. Essa política restritiva foi adotada por Portugal e outros Estados europeus detentores de impérios coloniais.

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