sábado, 5 de maio de 2012

Breve Resumo da Colonização da América Espanhola.

A colonização espanhola obedeceu a outros critérios diferentes do norte americano. Foi feita com interesses econômicos, mas disfarçados através da alegação da fé cristã. Eram colônias de exploração, mas os espanhóis alegavam também a necessidade de catequizar levando o evangelho aos índios. Precisamos lembrar que o protestantismo havia tirado muitos fiéis da Igreja Romana e essa precisava chegar a América primeiro, repondo esse contingente de fiéis perdidos. Por isso costuma-se dizer que a colonização obedeceu a expressão “a cruz e a espada”.  
O que mais atraia os espanhóis era o ouro e a prata, abundantes no México, Peru e Bolívia, além da agricultura de gêneros tropicais que a Europa necessitava.
Essa exploração também foi feita por terceiros, chamados adelantados, porque a coroa espanhola não tinha condições de bancar a colonização. Assim temos a união do capital burguês com a coroa. Aqueles que vinham colonizar a América espanhola eram   fidalgos que buscavam uma chance de enriquecer e provar seu sangue nobre, seu estilo de conquistador em terras distantes. A Espanha não oferecia mais espaço para o crescimento dessa pequena nobreza.
O pacto colonial funcionou bem nas colônias espanholas. O sistema de porto único foi adotado. Um porto no México, outra no Panamá e Colômbia negociavam diretamente com o porto de Servilha na Espanha. Depois a rota foi estendida para o de Cádiz. Desta forma todo comércio era controlado pela metrópole.
Além da importante exploração das minas, desenvolveu-se a pecuária no Chile e principalmente as chamadas haciendas: fazendas que produziam gêneros para abastecimento local. Dentro das colônias desenvolveu-se uma economia baseada na troca e não na monetarização, ou seja, era difícil a circulação da moeda.
Na administração os espanhóis subdividiram as colônias em quatro vice-reinados: Vice-reinado da Nova Espanha, Vice-reinado do Peru, Vice-reinado da Nova Granada, Vice-reinado do Rio do Prata. Essas divisões obedeciam a estratégias econômicas. Cada região tinha seu vice-rei apoiado pelas audiências que eram uma espécie de câmara superior. Depois vinham os cabildos que eram assembléias locais. Na Espanha ficavam a Casa de Contratacion e o Supremo Conselho das Índias, órgãos máximos da administração colonial e representantes da Coroa.
Trabalho e  Mão-de-Obra nas Colônias Espanholas
Quando falamos sobre a colonização espanhola na América, não podemos ignorar a forma de trabalho adotada. Nesse caso precisamos refletir sobre os povos que aqui viviam antes da chegada do europeu, mesmo que não seja nosso foco principal.
Chamamos Pré-colombianos os índios da América, anteriores a chegada do homem branco. As civilizações Asteca, Maia e Inca tinham uma incrível estrutura político-econômico e social, organizada sobre extensa faixa de terra que ia do México, passando pela América Central e se estendendo à América do Sul.
Na época da chegada do conquistador espanhol Hernán Cortés, haviam impérios bem estruturados como o dos Astecas, que era governado por Montezuma II auxiliado por seus sacerdotes, já que religião e política andavam juntas. Tinham agricultura desenvolvida, sistema de irrigação, aquedutos semelhantes aos da Roma antiga e uma religião baseada no sacrifício humano aos deuses.
Mas como uma civilização foi vencida por um número bem menor de homens brancos recém chegados?
A explicação para esse problema repousa nos seguintes pontos:
1º A religião dos índios acreditava que um deus voltaria a sua terra. Quando os primeiros informantes chegaram a Montezuma falando sobre “monstros que andavam sobre as águas e homens de cabelos de fogo”, o imperador identificou-os com os deuses;
2º Os índios não conheciam o cavalo, que transmitia imponência àquele que o montava. Aliado a isso o homem branco tinha armas de fogo e a pólvora que provocavam grande assombro pelo ruído e forma de matar;
3º A civilização indígena era fragmentada. Os Astecas dominavam várias outras tribos, fazendo escravos e prisioneiros para o sacrifício humano ou mesmo cobrando tributos. Isso deixava os demais insatisfeitos e os fez apoiar os europeus na conquista  para serem libertados do jugo;
4º Os pré-colombianos não tinham defesas orgânicas contra as doenças trazidas pelos europeus, assim, morriam facilmente de males que os brancos já estavam acostumados.
 Depois de efetivada a conquista e subjugado os nativos, começou-se a exploração das colônias. A força de trabalho era organizada sob a escravidão indígena. Para isso os espanhóis usavam o sistema conhecido por mita e encomienda.
Na mita os indígenas recebiam um pequeno pagamento não monetarizado, em troca  de seus trabalhos. Na encomienda os índios trabalhavam e em troca recebiam a catequização (a cultura cristã dos europeus) e a proteção da coroa. Na área das minas havia ainda o repartimiento  onde trabalhavam para sobreviver até que, mais tarde, começaram a receber uma pequena parte do que mineravam.
Todas essas formas de trabalho eram compulsórias. Os nativos não podiam escolher eram forçados como escravos. Normalmente viajavam para regiões distantes da sua, sendo submetidos as piores condições. O resultado era a morte pelo cansaço, pelas doenças, ou através do suicídio.
Organização Social
Para falarmos da sociedade iniciada com a colonização, precisamos observar o fenômeno da mestiçagem.
Nas viagens iniciais as mulheres eram proibidas de vir para as colônias. Isso provocou a relação entre os espanhóis e as índias. Somam-se a isso os casamentos de acordo entre as princesas indígenas e os conquistadores, fenômeno que se repetia entre todos os colonos. Precisamos também recordar que os espanhóis já estavam acostumados ao contato com o estrangeiro, devido a presença dos sarracenos na Península Ibérica até o momento da reconquista cristã e expulsão dos árabes.
Podemos dizer que pouco havia de preconceito nas relações iniciais, porém, os homens desenvolveram esse preconceito com o nascimento dos filhos mestiços. Havia dificuldades de identidade étnica porque essas crianças não eram aceitas pelos brancos e nem por índios.
A sociedade das colônias espanholas estava hierarquizada. No topo encontramos os chapetones, que eram os espanhóis ocupantes dos cargos mais altos da administração como nas Audiências. Depois vinham os criollos, que eram os filhos de espanhóis nascidos na América. Ocupavam os lugares das assembléias locais denominadas cabildos. Abaixo estavam os capatazes que eram os mestiços, negros e índios, que consistiam na maioria da população.
Entre os chapetones e os criollos, havia, inicialmente, uma tênue linha separatista. Após algumas gerações começou a haver uma segregação que antipatizava os altos funcionários que a coroa espanhola enviava e os nascidos na colônia que guardavam seus próprios interesses, geralmente diferentes dos da metrópole. Foi esse sentimento que contribuiu para as posteriores lutas por independência. A tensão e o conflito também foram agravados pela crise que a Espanha começou a viver coma ascensão de outras potências européias como a França e a Inglaterra.

Um Breve Resumo da Colonização da América Inglesa.


Introdução

A Inglaterra iniciou seu processo de expansão marítima no final do século XV, após a Guerra das Duas Rosas, com a ascensão da Dinastia Tudor, que deu início a formação do absolutismo e desenvolveu uma política mercantilista. No entanto, as expedições que a princípio pretendiam encontrar uma passagem para o Oriente, não tiveram resultados efetivos, seja pelos conflitos com a Espanha, ou com os povos indígenas na América do Norte.

A Inglaterra

No século XVII a Inglaterra vivia uma conjuntura favorável à colonização. O comércio havia dado origem a uma burguesia enriquecida e dotado o país de uma grande frota, pois no século anterior, principalmente do reinado de Elizabeth I, o mercantilismo havia se imposto, utilizando-se inclusive das atividades dos corsários; a Espanha, em decadência, não tinha condições de manter os territórios que julgava seus pelo Tratado de Tordesilhas. Do ponto de vista social, havia nas cidades inglesas uma grande massa de homens pobres, resultado do êxodo rural, provocado pelos "cercamentos" e outra camada de origem burguesa, porém que sofria com as perseguições religiosas. Parte desses dois grupos migraram para as colônias da América do Norte.

A Empresa Colonizadora

O início da colonização da América do norte pelos ingleses deu-se a partir da concessão real a duas empresas privadas: A Companhia de Londres, que passou a monopolizar a colonização das regiões mais ao norte, e a Companhia de Plymonth, que recebeu o monopólio dos territórios mais ao sul. Dessa maneira dizemos que a colonização foi realizada a partir da atuação da "iniciativa privada". Porém subordinadas as leis do Estado.
A primeira colônia inglesa foi a Virgínia, que nasceu a partir da fundação da cidade de Jamestown, mas a efetiva ocupação e desenvolvimento da região levaria algumas décadas, ao longo das quais foram estabelecidas outras colônias na região sul: Maryland (colônia católica, em 1632) Carolina Do Norte e Carolina do Sul (1663) e Geórgia (1733). Nessas colônias desenvolveu-se a estrutura tradicional de produção, caracterizada pelo latifúndio monocultor, voltado para a exportação segundo os interesses da metrópole, utilizando o trabalho escravo africano.

As Colônias do Norte têm sua origem na fundação da cidade de New Plymonth ( Massachussets) em 1620, pelos "peregrinos do mayflower", puritanos que fugiam da Inglaterra devido as perseguições religiosas e que estabeleceram um pacto, segundo o qual o governo e as leis seguiriam a vontade da maioria. A partir de NewPlymonth novos núcleos foram surgindo, vinculados a atividade pesqueira, ao cultivo em pequenas propriedades e ao comércio. No entanto a intoler6ancia religiosa determinou a migração para outras regiões e assim novas colônias foram fundadas: Rhode Island e Connecticut (1636) e New Hampshire (1638). Nessa região, denominada genericamente de "Nova Inglaterra" as colônias prosperaram principalmente devido ao comércio. Do ponto de vista da produção, a economia caracterizou-se pelo predomínio da pequena propriedade policultora, voltada aos interesses dos próprios colonos, utilizando-se o trabalho livre, assalariado ou a servidão temporária.

As Colônias do Centro foram as últimas a surgirem, após a Restauração da Monarquia inglesa em 1660. A ocupação da região ocorreu principalmente por refugiados religiosos e foi onde o pensamento liberal rapidamente enraizou-se, tanto do ponto de vista político como religioso. Nova Iorque, Pensilvânia, Nova Jérsei e Delaware desenvolveram tanto a agricultura em pequenas propriedades como a criação de animais, com uma produção diversificada e estrutura semelhante à da Nova Inglaterra.

A Organização Política

As 13 colônias eram completamente independentes entre si, estando cada uma delas subordinada diretamente à metrópole. Porém como a colonização ocorreu a partir da iniciativa privada, desenvolveu-se um elevado grau de autonomia político-administrativa, caracterizada principalmente pela idéia do autogoverno.
Cada colônia possuía um governador, nomeado, e que representava os interesses da metrópole, porém existia ainda um Conselho, formado pelos homens mais ricos que assessorava o governador e uma Assembléia Legislativa eleita, variando o critério de participação em cada colônia, responsável pela elaboração das leis locais e pela definição dos impostos.
Apesar dos governadores representarem os interesses da metrópole, a organização colonial tendeu a aumentar constantemente sua influência, reforçando a idéia de "direitos próprios".

O Desenvolvimento Econômico
As características climáticas contribuíram para a definição do modelo econômico de cada região, o clima tropical no sul e temperado no centro-norte. No entanto foi determinante o tipo de sociedade e de interesses existentes. Na região centro norte a colonização foi efetuada por um grupo caracterizado por homens que pretendiam permanecer na colônia (ideal de fixação), sendo alguns burgueses com capitais para investir, outros trabalhadores braçais, livres, caracterizando elementos do modelo capitalista, onde havia a preocupação do sustento da própria colônia, uma vez que havia grande dificuldade em comprar os produtos provenientes da Inglaterra.
A agricultura intensiva, a criação de gado e o comércio de peles, madeira, e peixe salgado, foram as principais atividades econômicas, sendo que desenvolveu-se ainda uma incipiente indústria de utensílios agrícolas e de armas. Em várias cidades litorâneas o comércio externo se desenvolveu, integrando-se às Antilhas, onde era obtido o rum, trocado posteriormente na África por escravos, que por sua vez eram vendidos nas colônias do sul: Assim nasceu o "Comércio Triangular", responsável pela formação de uma burguesia colonial e pela acumulação capitalista.

América Pré-Colombiana


Os Olmecas

A cultura olmeca, que se originou na costa sul do Golfo do México (La Venta,
San Lorenzo, Tenochtitlán, Três Zapotes), é considerada a primeira cultura elaborada da Mesoamérica, e matriz de todas as culturas posteriores dessa área.
Quem foram os olmecas? A sua antigüidade remonta á époci em que na Europa, depois de invadirem Creta, os aqueus se preparavam para conquistar Tróia.
Portanto, por volta do século XIII a.C., surgiu na América a primeira civilização,
Que durou até cerca do ano 100 a.C.. As características marcantes do Império Olmeca, que se estendeu desde o México Ocidental até, talvez, a Costa Rica - foram a escultura monumental (colossais cabeças de pedra) e a presença de centros cívicos religiosos a que se subordinavam áreas periféricas (satélites).
Tem razão o historiador mexicano Ignacio Bernal em declarar que "para nós,
americanos, ainda é melhor conhecida a vida de Roma que a de Tenochtitlán ou de Cuzco". Embora já se conheça razoavelmente bem a vida econômica e sócio-política dos astecas e incas, a mesmo não acontece com relação aos olmecas. Recentes pesquisas arqueológicas, realizadas em San Lorenzo, um dos principais centros Olmecas e, provavelmente, o primeiro centro civilizada da Mesoamérica, nos dão conta da existência de colinas artificiais, com desaguamentos subterrâneos que funcionariam como sistemas para controle da água. A costa meridional do Golfo do México é uma área pantanosa, irrigada por numerosos rios. Nesse ambiente tropical, os olmecas cultivaram milho, feijão e abóbora, complementando a subsistência com os produtos obtidos através da caça e da pesca.

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Além de talhar monumentos gigantescos, feitos de pedra, os olmecas também
destacaram-se no artesanato de jade. Nem pedra, nem jade existiam no litoral da
Golfo. Os olmecas iam buscar essas matérias-primas em regiões distantes. Como
não conheciam a roda, nem possuíam animais de carga, a pedra era transportada
em balsas, por via fluvial. A procura do jade deve ter servido como estimulo ao
comércio, que se fazia através de numerosas rotas. Acredita-se que a notável influência olmeca na Mesoamérica seja devida á extensão desse comércio.
A organização social dos olmecas era bastante desenvolvida. A população,
espalhada pelo Império, dividia-se entre urna minoria (sacerdotes, artífices de elite), que habitava os centros cerimoniais, e a maioria do povo - camponeses - que vivia nas aldeias.
Nos centros cerimoniais, como o de La Venta, havia altos cômoros, em forma de pirâmide truncada, construídos sobre grandes plataformas de terra, organizadas ao redor de plazas, segundo um plano sistemático. Esses montículos de argila eram rodeados de enormes fossas, onde foram encontradas máscaras religiosas profundamente enterradas. Ao que parece, os cômoros tinham funções primordialmente funerárias

É de se supor a existência de Chefias ou Estados incipientes (como em Três
Zapotes), devido á necessidade de supervisão e planejamento, além de recruta-
mento de numerosa mão-de-obra, para a construção das pirâmides, plataformas
e aterros.

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O valor dominante do religioso caracterizou a Arte olmeca. A escultura era
bastante desenvolvida: monumentais cabeças de pedra, com rosto redondo, lábios
grossos e nariz achatado; estatuetas com formas humanas; e outras apresentando
uma mistura de traças humanos e felinos (aguar). Todas caracterizavam-se pela
boca retorcida - típica da Arte olmeca. São freqüentes as representações do jaguar, a principal divindade, sendo que o homem-jaguar representaria, provável.
mente, o deus da chuva. Quanto a pintura, dela encontraram-se poucas exemplares, em locais distantes.
Sabe-se que tinham conhecimentos de Astronomia - basta observar-se o traçado das suas cidades, obedecendo aos pontos cardeais (como La Venta) - e um
calendário, pois foram encontrados, em alguns monumentos, registros de datas
muito antigas. Também conheciam a escrita e possuíam sistemas matemáticos.
Muitos traços e tradições dos olmecas sobreviveram entre as diversas culturas
que os sucederam, como é o caso das culturas dos maias e astecas.

Os Maias

Os maias - que ocuparam as planícies da Península do Iucatâ, quase toda
a Guatemala, a parte ocidental de Honduras e algumas regiões limítrofes - constituíam povos que falavam línguas aparentadas, e elaboraram uma das mais complexas e influentes culturas da América. Alguns historiadores, para quem a Europa é o centro do mundo, chegaram a comparar os maias aos gregos, em termos de importância cultural.
Estes Gregos do Novo Mundo possuíam uma economia agrícola baseada na
produção do milho, considerado alimento sagrado, pois dele se teria originado o
homem, segundo a mitologia maia. A terra era cultivada coletivamente. obrigando-
se os camponeses ao pagamento do imposto coletivo. A caça e a pesca eram atividades complementares, sendo desconhecida a pecuária.

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A organização social dos maias ainda é, em grande parte, desconhecida. Entretanto, através do estudo da Arte maia, sobretudo de sua Pintura, pode-se caracterizar essa civilização como uma sociedade de classes. Uma elite (militares e sacerdotes) constituía a classe dominante, de caráter hereditário, que habitam os numerosos centros cerimoniais, circundados pelas aldeias onde vivia a numerosa mão-de-obra composta por camponeses submetidos ao regime da servidão coletiva. Os centros maias não eram apenas o lugar da administração e do culto, mas também exerciam funções comercias: trocas de produtos cultivados e de artigos do artesanato, objetos de ouro e cobre, tecidos de algodão, cerâmica), sendo muito importante o ofício de mercador. Havia ainda os escravos, cujas figuras apareciam em numerosos monumentos do Antigo Império Maia. "Estas figuras de cativos certamente são uma representação dos prisioneiros de guerra reduzidos á escravidão, ainda que possam representar também as pessoas de todo um povoado ou aldeia, coletivamente, melhor do que a um indivíduo em especial, as vezes, os rostos dos prisioneiros são diferentes dos das principais figuras, diferença que possivelmente indica que os senhores pertenciam a uma classe hereditária especial."

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Politicamente, acredita-se que o governo maia fosse uma teocracia, exercida
peio Halach Uinic, de caráter hereditário, incumbido da política interna e externa,
e do recolhimento do imposto coletivo das aldeias. Uma espécie de Conselho assessorava esse governante. As chefias das aldeias eram exercidas pelos Batab, com jurisdição local e submetido ao supremo governante, como, aliás, todos os habitantes das aldeias e os funcionários reais. Estas chefias locais poderiam ser constituídas pelas antigas aristocracias tribais, cooptadas pelo Estado para melhor afirmar sua autoridade sobre as aldeias. Havia ainda os Nacom, chefes militares eleitos por um período de três anos, que intervinham nos assuntos da guerra, organizando o exército; e funcionários menos categorizados, os Tupiles, que zelavam pela ordem pública.
Os maias na verdade, nunca chegaram a constituir um Império: cada cidade.
com suas respectivas aldeias, formava um Estado independente: Palenque, Copán, Tical e outras.
Do ponto de vista religioso, os maias acreditavam que o destino do homem era
controlado pelos deuses, e, assim, toda sua produção cultural foi nitidamente influenciada pela religião. A arquitetura era sobretudo religiosa. Utilizando principalmente pedra e terra como materiais, e trabalho forçado da numerosa mão-de-obra camponesa, construíram-se templos, de forma retangular, sobre pirâmides truncadas, com escadarias, e estendendo-se ao redor de praças. Também se edificaram palácios, provavelmente para residência dos sacerdotes, em que os interiores , geralmente longos e estreitos, eram cobertos por uma falsa abóbada, característica desse tipo de edificação. Todas as dependências revestiam-se de elaborada decoração - esculturas, pinturas murais, geralmente representando cenas guerreiras ou cerimoniais (altos dignitários sendo homenageados ou servidos por súditos). A escultura em terracota foi outro exemplo notável da Arte maia, enquanto a Pintura, utilizando cores vivas e intensas, atingiu alto grau de perfeição.

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A preocupação religiosa também estava presente nas realizações das maias
no campo do registro do tempo. "Uma das grandes realizações devidas aos sacerdotes foi o calendário da América Central. Todas as religiões se interessam pela determinação do tempo. Elas ligam o ciclo vital do indivíduo aos atos rituais que revivem periodicamente na sociedade e sincronizam este tempo social com a marcha do tempo.
O calendário cíclico, que abrangia um período de 52 anos, era um sistema complexo de contagem do tempo, agrupando três ciclos, com número diferente de dias e com múltiplas combinações. Esse calendário orientava as atividades humanas e pressagiavam as vontades dos deuses. Os maias fizeram notáveis progressos na Astronomia. (eclipses solares, movimento dos planetas). Também adquiriram avançadas noções de Matemático, como um símbolo para o zero e o principio do valor relativo.
Embora não esteja ainda de todo decifrada, já se sabe que a escrita maia, considerada sagrada, não se baseava em um alfabeto: havia sinais pictográficos e símbolos apresentando sílabas, ou combinações de sons.
No que restou da produção literária, sobressai o Popol Vuh, livro sagrado dos
maias, que contém numerosas lendas e é considerado um dos mais valiosos exemplos de Literatura indígena.
Por volta do ano 900, o Antigo Império Maia sofreu um declínio de população,
e teria iniciado um processo erroneamente confundido com decadência. Alguns
estudiosos atribuem o abandono dos centros maias à guerra, insurreição, revolta
social, invasões bárbaras etc. De fato, os grandes centros foram abandonados, porém não de súbito. As hipóteses mais prováveis apontam para uma exploração intensiva de meios de subsistência inadequados, provocando a exaustão do solo e a deficiência alimentar.
A cultura maia posterior, fundindo-se com a dos Toltecas, prolongou-se no
Novo Império Maia até a conquista definitiva pelos espanhóis.



Texto retirado de HISTÓRIA DAS SOCIEDADES AMERICANAS
Aquino, Jesus e Oscar
Editora Ao Livro Técnico

Reforma Protestante e Contra Reforma Católica.


A Reforma Protestante e a Reforma Católica integram um conjunto de acontecimentos que marcaram a transição do feudalismo para uma sociedade aos moldes burgueses na Europa ocidental. A Reforma Protestante foi além da critica aos dogmas e práticas do catolicismo, que abalaram a autoridade da hierarquia eclesiástica. Com o apoio de segmentos sociais interessados na diminuição do poder do papa, ela contribuiu para modificar as instituições políticas, sociais e econômicas européias. 0 termo protestantismo não designa uma Igreja ou seita específica, mas o movimento de reforma religiosa iniciado na Alemanha por Martinho Lutero, que deu origem a diversos grupamentos evangélicos.
            As expressões Reforma Católica ou Contra reforma, por sua vez, referem-se ao movimento que pretendeu repensar o catolicismo, abalado pelas críticas e iniciativas dos reformadores protestantes. Entretanto, no Concílio de Trento (1545-1563), o papa e os cardeais concluíram que a doutrina católica não precisaria ser modificada. Em vez disso, Roma reforçou seus dogmas, criando mecanismos eficazes para o combate à heresia, isto é, a qualquer doutrina contrária ao que fora definido pela hierarquia em matéria de fé. Heresia, palavra de origem grega, significa opção, escolha. Para a Igreja Católica no momento de transição para a modernidade, religião não era uma questão de livre-arbítrio.
            A multiplicação das heresias na Baixa Idade Média foi um sintoma da crise da ordem feudal, incapaz de atender às necessidades espirituais e materiais de largos setores da população. Muitos grupos declarados heréticos pela Igreja denunciavam a corrupção do clero e propunham uma vida simples e igualitária, tal como a dos primeiros cristãos. Com isso, criticavam também os privilégios e o estilo de vida da nobreza, que se uniu aos eclesiásticos na repressão a esses movimentos. Várias heresias foram esmagadas, seus partidários condenados à forca ou lançados nas fogueiras. Mas suas idéias contribuíram, séculos depois, para a reforma religiosa nos Estados germânicos, atual Alemanha, e também para a rebelião dos campesinato germânico contra a opressão dos príncipes.
            A heresia mais significativa do século XII foi a dos albigenses ou cátaros ("puros", em grego) que, do sul da França, cresceu até assumir o caráter de uma igreja organizada e em expansão, concorrente da Igreja Católica. 0 movimento se difundiu a partir de Languedoc, região meridional praticamente independente do rei da França. No sul não se falava francês e sim o provençal, idioma também descendente do latim. Ali se desenvolveu uma cultura própria, diferenciada da francesa. No século XI li, nobres católicos lutaram em defesa dos cátaros contra as tropas vindas do norte.
            Os cátaros acreditavam que o bem e o mal eram eternos. As almas, criadas pelo princípio do bem, tendiam a ser dominadas pelo Diabo, senhor do mundo; Jesus era um anjo enviado pelo princípio do bem para ensinar os homens a escapar das tentações do mal. Os cátaros não admitiam os sacramentos nem juramentos, essenciais às relações entre suseranos e vassalos, e não derramavam sangue nem mesmo em defesa própria. Foram condenados por heresia em 1184. A ofensiva geral, porém, viria no século XIII, quando o papa Inocêncio III lançou a Cruzada Albigense: quem participasse da repressão aos hereges receberia o perdão dos seus pecados, como acontecia aos cruzados na Terra Santa. A guerra, entre 1209 a 1229, exterminou os cátaros, colocou Languedoc sob controle francês e esmagou a cultura provençal.
            Muitas mulheres suspeitas de heresia também foram perseguidas pela Igreja como bruxas ou feiticeiras. Certamente o clima sexual perverso, implícito na idéia de feitiçaria, colaborou para dar aos heréticos uma imagem de depravação, ainda que estes, como faziam os cátaros, pregassem a castidade absoluta, mesmo entre marido e mulher. Pessoas acusadas de heresia ou bruxaria eram julgadas pelo temível Tribunal de Inquisição, instituído com a finalidade de investigar e punir crimes contra a fé católica. Durante mais de 300 anos, milhares de mulheres que, segundo a crença da Igreja, desde Eva eram uma ameaça constante, foram queimadas vivas em cerimônias pública.
            Alguns intelectuais dos séculos XIV e XV podem ser considerados precursores do movimento reformista. Entre eles estão inglês, John Wycliffê, professor em Oxford, que denunciou a corrupção do clero e desafiou a autoridade da Igreja ao afirmar que qualquer um que tivesse fé poderia conseguir a salvação eterna. Suas idéias sobre a salvação pela fé e não pela prática de "boas obras" como a compra de indulgências serviram de inspiração para as 95 teses que expressaram as críticas de Martinho Lutero à Igreja Católica.
            Outro precursor da Reforma foi o padre Jan Huss, natural da Boêmia (região que hoje integra a república Tcheca), que morreu queimado na fogueira em 1415. Profundo conhecedor dos textos bíblicos e do pensamento de Wycliffê, Huss pregava a obediência estrita às Escrituras e denunciou a corrupção e o luxo do clero. Ele traduziu textos sagrados para a língua do seu povo; sua vida e sua obra são reverenciadas como momentos marcantes de afirmação da nacionalidade tcheca.
            A execução de Huss por ordem do imperador Sigismundo, que governava o Sacro Império Romano Germânico (entidade que abrangia a Boêmia e boa parte dos Estados germânicos), deu origem ao hussismo, movimento de massas contra a autoridade eclesiástica e imperial. 0 hussismo passou a ser a bandeira de rebelião das massas camponesas empobrecidas, e também a expressão do nacionalismo boêmio. em 1434, depois de numerosas vitórias, os hussitas foram massacrados. Um século depois, Lutero admitiria que Huss era o grande precursor da Reforma.
A afirmação da nacionalidade, que levava os camponeses da Boêmia à rebelião sob a bandeira hussita, em outras partes da Europa conduzia à formação das monarquias nacionais. Isso é um indício de que, naquele momento, interligavam-se os vários aspectos da crise feudal, tais como o desenvolvimento cultural e científico, a formação das monarquias nacionais, o peso crescente dos setores mercantis e manufatureiros e o declínio da Igreja Católica. Todos esses aspectos se associaram à reforma religiosa, articulando-se ao maior ou menor grau de centralização do poder político e atrás condições que variavam de país para país.
            Questionando verdades estabelecidas, sacramentadas pela Igreja, o homem do Renascimento lançou-se na aventura de pensar livremente. A teoria do heliocentrismo de Nicolau Copérnico, a física de Isaac Newton, o método científico de Francis Bacon, as múltiplas pesquisas empreendidas por Leonardo da Vinci apontavam o caminho, levando ao abandono de muitas concepções medievais e enfatizando a importância da razão e do pensamento sem barreiras. Essa atitude seria estendida à esfera religiosa: a Reforma não propunha intermediários entre Deus e o homem.
            A formação das monarquias nacionais também contribuiu para o movimento reformista, uma vez que o conflito entre o poder temporal, representado pelo rei, e o poder espiritual, representado pelo papa, constituiu um obstáculo ao fortalecimento da autoridade central. Além disso, os dízimos transferidos para Roma prejudicavam as finanças dos Estados Nacionais. E os extensos feudos da Igreja em cada país eram cobiçados pelos reis e pela nobreza territorial, que se apoderaram deles no decorrer da reforma religiosa.
            O conflito entre Roma e a burguesia mercantil, por sua vez, esteve ligado à oposição eclesiástica à usura, isto é, ao pagamento de juros nos empréstimos. A Igreja propunha, em vez disso, a Teoria do Justo Preço, segundo a qual era estabelecido um limite para os lucros dos comerciantes.
            Corno era previsível, os fatores imediatamente associados à proposta de reforma religiosa diziam respeito às práticas da Igreja Católica: a venda de indulgências para o perdão dos pecados, as negociatas em torno dos cargos religiosos, o despreparo e a vida desregrada de muitos sacerdotes tornavam-na alvo de críticas de grande impacto popular.
            Na esfera teológico-filosófica, estavam em confronto duas propostas. De um lado o Tornismo, doutrina de São Tomás de Aquino, teólogo italiano 0 225-1274), adotada oficialmente pela Igreja Católica, e que tentava conciliar o cristianismo com a teoria do livre-arbítrio; do outro lado, as concepções de Santo Agostinho, doutor da Igreja nascido na África romana (354-430), que pregavam a predestinação e a fé. A doutrina agostini na serviria de base para a Reforma Protestante.
            Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano e doutor em Teologia pela Universidade de Wittenberg, foi o impulsionador da reforma religiosa na região da atual Alemanha. Ele aceitava as idéias de Jan Huss principalmente no que dizia respeito às propostas de liberdade de culto e de liberdade de consciência individual. Divergindo das orientações de Roma, Lutero acreditava que a salvação da alma resultava da fé, a graça divina mais importante do homem; e que as boas obras em nada influíam para a salvação. A partir dessas idéias, Lutero condenou a compra de indulgências como passaporte ao reino dos céus.
            As condições políticas e econômicas do Santo Império Romano-Germânico, que abrangia boa parte dos territórios alemães, favoreceram a difusão das concepções de Lutero. 0 Império era formado por diversos principados independentes, governados por nobres que elegiam o imperador. 0 poder imperial estava nas mãos da dinastia dos Habsburgos, representada por Carlos V, que tinha fortes ligações com a Igreja Católica. Havia cardeais entre os Eleitores do Sacro Império. Além disso, muitos feudos eram controlados pelo clero, que conseguia grandes lucros com o arrendamento dessas terras. Outras fontes de renda da Igreja provinham da arrecadação do dizimo e do comércio de indulgências. Diante do poderio econômico e dos abusos cometidos pelos eclesiásticos, diversos segmentos sociais faziam fortes críticas à Igreja, criando um terreno favorável para a proposta de reforma religiosa.
            Mas os diferentes grupos sociais dos principados alemães tinham características, objetivos e interesses diferentes. A burguesia queria um clero menos intransigente-e ao mesmo tempo desejava reduzir a transferência de capitais para Roma; a nobreza desejava apoderar-se das terras eclesiásticas, enquanto os camponeses viam na Igreja Católica um dos maiores exploradores do Império, devido à cobrança dos dízimos. Eles queriam terras para cultivar. E também estavam dispostos a lutar para se livrar da dominação dos grandes nobres, qualquer que fosse a sua religião.
            Em 1517, a decretação de uma bula (carta pontifícia de caráter solene) do papa Leão X, promulgando uma das mais notáveis vendas de indulgências já vistas na Europa, acelerou a crise. Na bula, o papa estabelecia que aqueles que contribuíssem para a construção da Catedral de São Pedro, em Roma, receberiam de Deus o perdão total de seus pecados. Para efetivar o "negócio", Leão X propôs acordos com a França e a Inglaterra e também com os banqueiros alemães. Os signatários do acordo dividiram com Roma parte dos lucros obtidos na arrecadação. No mesmo ano, denunciando a venda de indulgências e a doutrina da salvação pelas obras, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, onde era sacerdote, um documento que apontava noventa e cinco críticas a ao papado, conhecido como as 95 Teses de Lutero. Eis algumas delas O aparecimento das 95 Teses deu início ao confronto entre Roma e o monge rebelde. Leão X exigiu que Lutero se retratasse, sob pena de ser considerado herético. Lutero respondeu à ordem papal queimando publicamente o documento que continha a intimação vinda de Roma. Como conseqüência, foi excomungado mas, com a proteção da nobreza alemã, conseguiu manter-se escondido por algum tempo.
            Em apoio às decisões do papa, o imperador Carlos V convocou Lutero a comparecer diante da Dieta de Worms, assembléia imperial, para que fosse julgado pelos príncipes alemães. 0 julgamento foi favorável a Lutero, uma vez que a maioria dos nobres era hostil a Roma. Contrariando a decisão da Assembléia, Carlos V determinou o banimento de Lutero dos territórios imperiais. Mas Frederico da Saxônia o acolheu nos seus domínios, situados entre o rio Reno e o mar Báltico. Outros príncipes financiaram a divulgação das idéias luteranas por todo o Império.
            Lutero tinha expectativas de que a nobreza alemã abraçasse a religião reformada e pusesse em prática suas concepções. Havia, porém, outros setores comprometidos com a Reforma, mais radicais do que os príncipes, os cavaleiros e as massas camponesas reunidas em torno da seita dos anabatistas. Este grupo admitia apenas o batismo dos adultos, pois as crianças não tinham maturidade para optar. Mas sua proposta de maior apelo popular era o retorno ao igualitarismo do tempo dos apóstolos, com a partilha das riquezas e especialmente da terra.
            A radicalização desses grupos não tardou. Já em 1523 ocorreu à revolta dos cavaleiros. Integrantes da pequena nobreza empobrecida, eles não possuíam terras ou prestígio social. Pregavam a melhor distribuição das rendas e a diminuição do poder político da alta nobreza. Motivados pelas idéias luteranas, que criticavam a riqueza do clero, invadiram as propriedades eclesiásticas e dividiram-nas com os camponeses. Lutero condenou as ações radicais feitas em seu nome e apoiou os grandes senhores na luta contra os cavaleiros, declarando que as reformas deveriam partir da alta nobreza e que a ela deveriam ser entregues as terras da Igreja Católica, após o movimento reformista.
            Entre 1523 e 1525 tiveram início as mobilizações do campesinato alemão, de início em apoio aos cavaleiros e depois como um movimento autônomo. Os camponeses eram liderados por Thomas Münzer, porta-voz dos anabatistas e um dos seguidores mais radicais de Lutero. Percebendo que as propostas luteranas beneficiavam prioritariamente a aristocracia, Münzer rompeu com Lutero e estabeleceu sua própria doutrina, que pregava o fim da propriedade privada. Seus adeptos, principalmente camponeses e aprendizes das cidades, revoltaram-se contra o domínio da nobreza, dos sacerdotes e dos cidadãos mais ricos.
            Na Alemanha Central, o movimento tornouse tipicamente revolucionário, com os camponeses exigindo a abolição da servidão e a posse comunitária da terra. Lutero mais uma vez manifestou-se contrário ao movimento popular, condenando publicamente Milinzer e os camponeses. Thomas Münzer rebateu às acusações vindas do pastor, chamando Lutero de "Doutor Mentiroso".
            Tropas militares financiadas pela alta nobreza reprimiram brutalmente o movimento camponês. O saldo da rebelião foi de cem mil mortos e a decapitação de Thomas Münzer.
            Em 1530, com o auxílio do teólogo Filipe MeIanchton, Lutero redigiu um documento que fundamentava sua doutrina. Nele, afirmava que a fé constituía a única e verdadeira fonte da salvação e que o dogma absoluto da religião reformada seria o texto das Escrituras. Lutero mostrava-se favorável à livre interpretação da Bíblia e à sua tradução nas línguas nacionais; ele próprio traduziu a Bíblia para o alemão. Sua proposta previa a existência de uma Igreja nacional, sem hierarquias religiosas como o papa e os bispos. O celibato dos padres desapareceria. Haveria apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. Lutero também negou o ato da transubstanciação (transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo), sugerindo que o ato religioso fosse visto não como a transformação, mas como a bênção sagrada e divina no pão e no vinho, que ele chamou de consubstanciação.
            Em 1555, na tentativa de promover a conciliação com o poder imperial, a nobreza luterana firmou um acordo conhecido como Paz de Augsburg. O acordo determinou que cada príncipe pudesse escolher sua religião, assim como a de seus súditos, segundo o princípio Cujus regís ejus reeligío (cada príncipe, sua religião).

            Como resultado, o luteranismo predominou nos Estados alemães do norte, enquanto o sul permanecia católico. A paz voltou a reinar temporariamente nas fileiras da alta nobreza alemã. Mas a unidade religiosa na Europa ocidental e central se rompeu para sempre.
            A reforma religiosa na Suíça representou, antes de tudo, uma necessidade burguesa. 0 país estava dividido em cidades-repúblicas, como Zurique, Basiléia, Berna e Genebra, todas elas importantes centros comerciais. 0 poder político nessas cidades estava nas mãos de uma burguesia nascente, impedida de expandir seus negócios devido às fortes barreiras impostas pela Igreja Católica. 0 clero combatia a liberdade econômica e o crescente lucro dos setores mercantis. A burguesia necessitava desse modo, de novos parâmetros morais, econômicos e religiosos que legitimassem a obtenção do lucro por meio do comércio e da exploração do trabalho assalariado.
            Uirico Zwinglio, ardente defensor das idéias de Lutero, foi o iniciador da reforma religiosa na Suíça. De formação humanista, ordenou-se padre em 1517, mostrando-se sempre muito crítico em relação aos dogmas da Igreja Católica. Sua atuação humanitária no auxílio aos pobres e doentes nas ruas de Zurique, durante a peste bubônica que assolou a Suíça em 1519, tornou-o muito popular. Essa passagem de sua vida levou o a refletir sobre a necessidade de viver mais intensamente a religião. Em seus sermões, passou a discutir a urgência de reformar o cristianismo.
            Zwinglio defendia a predestinação e condenava a confissão, alegando que cabia a Deus e não aos padres perdoar os pecados. Por iniciativa sua, a religião reformada estendeu-se pelo norte da Suíça-. Em 1531, quando tentava levar seus ensinamentos a grupos mais conservadores, teve início uma guerra civil que provocou a morte do reformador. Mas suas propostas saíram vitoriosas, consagradas no acordo conhecido como a Paz de Kappel (153 1), pelo qual o governo de cada região suíça teria o direito de escolher sua própria religião.
            As revoltas religiosas estenderam-se até Genebra, região submetida a um duplo poder político, dividido entre o bispo católico local e um nobre feudal, o conde de Sabóia. Os habitantes de Genebra enfrentaram esse duplo poder e tornaram-se independentes. A cidade-república de Genebra foi o cenário e o laboratório para a atuação de um dos maiores impulsionadores da Reforma, o teólogo francês João Calvino.
            Ao converter-se ao luteranismo por volta de 1530, Calvino (1509-1564) renunciou a alguns benefícios eclesiásticos. Em razão disso, foi perseguido e transferiu-se para Genebra em 1536. Nesta cidade publicou Instituições da religião cristã, na qual expunha seus princípios teológicos. Calvino reafirmava as doutrinas luteranas da salvação pela fé e levava às últimas conseqüências a Teoria da Predestinação.
            Os princípios calvinistas pregavam o rigor da disciplina, a valorização moral do trabalho e da poupança, oferecendo aos setores burgueses uma justificativa religiosa sólida e bem elaborada para suas atividades. Esse aspecto de justificativa ideológica contribuiu para que a doutrina calvinista ganhasse adeptos nas principais cidades-repúblicas da Suíça. A partir de 1541, tanto o governo como a religião de Genebra estavam nas mãos de Calvino, que exerceu o poder por intermédio de uma oligarquia religiosa conservadora sob o controle de um Consistório (assembléia). Detendo uma autoridade ilimitada, esse órgão controlava o cotidiano das pessoas, obrigando-as a participar de cultos e da comunhão.
            As idéias de Calvino expandiram-se pela Europa ocidental, região na qual o desenvolvimento das práticas capitalistas abria um campo favorável para uma reforma religiosa que justificasse e, além disso, impulsionasse as atividades dos setores mercantis e manufatureiros. Em cada país, grupos religiosos de inspiração calvinista, organizados pela burguesia local, empenharam-se na conversão de outras camadas sociais. Na Inglaterra (puritanos), na Escócia (presbiterianos), na França (huguenotes) e em muitas outras regiões surgiram adeptos da fé e da ética conservadora calvinista. De acordo com o cientista político Norberto Bobbio.
            A reforma religiosa na Inglaterra ocorreu antes mesmo de Lutero ter consolidado sua influência doutrinária nos territórios alemães. As condições inglesas mostravam-se favoráveis a isso. Os reis da dinastia Tudor lutavam para reforçar o poder central, e nesse processo entravam em conflito com a autoridade eclesiástica. Além disso, como acontecia em outros países, na Inglaterra a Igreja Católica detinha a posse de grandes extensões de terras, cobiçadas pela coroa e pela nobreza. As idéias dos humanistas e dos pensadores do Renascimento corroíam a autoridade tradicional e, para agravar a situação, as influências da Reforma chegavam ao país. A penetração das idéias de Lutero e mais tarde de Calvino nas camadas sociais como a gentry, pequena nobreza envolvida com as questões comerciais, e nos setores mercantis e profissionais teve repercussões importantes para a história do protestantismo na Inglaterra.
            O início da reforma religiosa inglesa se deu por iniciativa do rei Henrique VIII, que encontrou apoio em seus súditos para a organização da Igreja Anglicana. Mas isso não significou que a ruptura com a Igreja Católica no pais tenha sido apenas uma questão política. O conflito entre o rei e o papa foi desencadeado por problemas domésticos. Em 1527, Henrique VIII solicitou ao papa autorização para anular seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão. Tal pedido justificava-se no fato de ele e Catarina terem apenas uma filha, com a saúde comprometida, e, portanto inapta para subir ao trono da Inglaterra no momento necessário.
            Envolvido com uma dama inglesa, Ana Bolena, o rei pretendia resolver o problema da sucessão casando-se novamente, e para isso aguardava a autorização da Santa Sé. Mas o papa Clemente VII evitava intervir nessa questão, uma vez que Catarina era sobrinha do imperador Carlos V, do Sacro Império Germânico, que no momento auxiliava a Igreja no combate aos luteranos. Os infindáveis adiamentos do papa levaram Henrique VIII a tomar a iniciativa em 153 1, obrigando o Parlamento a votar uma série de leis que colocou a Igreja Católica inglesa sob o controle do Estado. 0 rei se tornou chefe supremo da Igreja Anglicana através do Primeiro Ato de Supremacia, podendo nomear os eclesiásticos e determinar os dogmas religiosos. A resposta do papa foi à excomunhão de Henrique VIII.
            A partir de 1536, muitos mosteiros deixaram de existir. Suas terras e os outros feudos do clero foram expropriadas e vendidas a nobres, a comerciantes e a fazendeiros, que passaram a ser o sustentáculo político da Igreja Anglicana. Na nova Igreja nacional, o rei concentrou extensos poderes de ordem espiritual.
            A complementação da obra reformista de Henrique VIII foi realizada no reinado de Elizabeth 1, sua filha com Ana Bolena. Entremeando características do anglicanismo e do calvinismo, a nova Igreja Anglicana procurou chegar a uma conciliação das regras religiosas na Inglaterra, na tentativa de impedir a divisão do reino por questões de crença.
            Na verdade, uma das preocupações da rainha Elizabeth foi organizar uma Igreja que pudesse ser aceita por católicos moderados sem grandes choques com as suas convicções, algo como um catolicismo sem Roma, um corpo doutrinário católico sem a hegemonia do papa. Ela chegou a alimentar esperanças na Santa Sé quanto ao restabelecimento do catolicismo na Inglaterra. Tais esperanças se esvaziaram com a votação do Segundo Ato de Supremacia, que reconhecia o poder político do rei sobre os assuntos de crença e determinava a total independência religiosa inglesa com relação a Roma.
            As origens da Reforma Católica ou Contra-Reforma podem ser buscadas a partir dos últimos anos do século XV, antes mesmo, portanto, da Reforma Protestante. Em países como Espanha e Itália, por iniciativa de alguns clérigos, foram tentadas medidas no intuito de restabelecer a disciplina eclesiástica e regenerar a vida espiritual. Mas a Igreja Católica como um todo só se preocupou em adotar medidas concretas no momento em que os movimentos de reforma passaram a questionar seriamente o corpo doutrinário e a ameaçar o poder político-econômico do clero.
            A reação de Roma frente à expansão do protestantismo veio através de várias medidas, entre elas a reorganização do Tribunal do Santo Ofício, que atuava na       Europa desde a idade Média, julgando e punindo aqueles que fossem suspeitos de difundir idéias e práticas religiosas em desacordo com a Igreja Católica.
            Além disso, por iniciativa do papa Paulo III, a Igreja Católica realizou um dos encontros mais importantes de sua história milenar: o Concilio de Trento. 0 Concílio realizou-se de 1545 a 1563, com algumas interrupções, e teve como objetivo principal posicionar-se frente às críticas protestantes. Dentre as decisões mais importantes tomadas em Trento, destacaram-se a reafirmação dos dogmas católicos, a manutenção dos sacramentos, a confirmação da transubstanciação, da hierarquia do clero e o celibato clerical.
            O Concílio também formulou normas para coibir abusos como a venda de indulgências e aprovou propostas para a fundação de seminários de teologia, destinados a melhorar a formação do clero. Por último, surgiu o Index LIbrorum Proibitorum, uma lista dos livros cuja leitura era proibida aos católicos. Obras como 0 elogio da loucura, do humanista católico Erasmo de Roterdam; edições de textos originais da Sagrada Escritura, traduzidos por teólogos protestantes; textos de Calvino e Lutero que falavam de heresias e cismas; Decamerão e todas as novelas de Boccaccio e o Livro de La oraciõnde Frei Luís de Granada (que chegou a ter 23 edições) constavam da lista proibitiva. O Index, constantemente revisto, foi abandonado apenas em 1966.
            O movimento católico foi ainda reforçado pela estruturação de ordens religiosas, sendo uma das mais importantes a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola. Os jesuítas, como ficaram conhecidos seus integrantes, se organizaram como um verdadeiro exército para a contra ofensiva católica. Responsáveis pelo fortalecimento do catolicismo em muitos dos países em que atuaram, transformaram-se em educadores e desempenharam, por exemplo, um papel fundamental na catequese dos povos nativos das colônias portuguesas e espanholas na América.
            A reforma religiosa impulsionada por Lutero e Calvino contribuiu decisivamente para a desestruturação das relações sociais predominantes no feudalismo. Num primeiro momento porque, ao criar uma moral econômico-religiosa, permitiu a médio prazo a ascensão da burguesia, sem traumas ou culpa, no universo econômico. Em seguida, porque provocou a ruptura da cristandade, fator importante da queda do prestígio e da autoridade do papa, um dos sustentáculos do mundo feudal. Os efeitos mais contundentes da Reforma Protestante foram a divisão da cristandade ocidental em diversas seitas hostis entre si. A liberdade de culto, a livre interpretação das Escrituras e a substituição do latim pelas línguas nacionais nas cerimônias religiosas incentivaram de certa forma o nacionalismo nos Estados. Entretanto, liberdade de culto não significou, num primeiro momento, liberdade religiosa. A intolerância, a perseguição aos adversários, à caça às bruxas, em sentido figurado e literal, também fizeram parte da ortodoxia protestante. Existe, além disso, toda uma herança negativa de guerras religiosas. Regiões como o norte da Irlanda, cenário de conflitos seculares entre católicos e protestantes, dão testemunho de que ambos se obstinam em ignorar as lições de amor do mestre que dizem reverenciar.